IV SIMPOFIL
Submissões de trabalhos: https://sigeventos.ufrn.br/evento/IVSIMPOFIL
Cultura e Natureza são dois termos que fazem remissão a um dilema onto-epistemológico e ético intrínseco à trajetória do pensamento moderno, bem como às soluções que se buscou dar a tal dilema expressa em uma série de separações: liberdade/necessidade; sujeito/objeto; mente/corpo; humano/animal. Como se sabe, essa trajetória também foi marcada por diversas modalidades de violência.

Ao menos desde os anos 60, teorias críticas no campo da ciências humanas, incluindo a filosofia, foram feitas à pertinência e legitimidade onto-epistêmicas e éticas da divisão analítica entre natureza e cultura. Contudo, como observou Anna Tsing, muitas dessas críticas se restringiram a enfatizar “as naturezas feitas pelo homem”, por meio de suas relações sociais e máquinas semióticas e técnicas. Mais recentemente observamos contribuições que têm enfatizado, cada vez mais, o “outro lado” da reversibilidade entre cultura-natureza: as multiplicidades não-humanas e mais-que-humanas. Algo que ganha um senso de urgência diante das mudanças climáticas e colapsos ecológicos, acendendo os debates em torno do “fim do mundo”. Neste processo, vemos emergir também não só o debate em torno dos conflitos ontológicos existentes entre a metafísica moderna (capitalista) e as cosmologias indígenas, afro-diaspóricas e não-ocidentais, mas também a questão da dívida e da reparação ligada à forma moderna de habitar a terra e de produzir riquezas.
No IV Simpofil, propomos investigar a complexa e dinâmica relação entre Natureza e Cultura, evidenciando diversos modelos conceituais e suas implicações ontológicas, epistemológicas, estéticas, políticas, lógicas e críticas.
No contexto de crise capitalista, que atualmente se expressa no colapso climático, no genocídio de populações não-brancas, na questão palestina, no aumento da violência anti-trans e contra mulheres, no agravamento das condições precárias de vida e de trabalha, na ascensão do neofascismo e na dessensibilização do nosso aparato sensorial, nos perguntamos, então: como pensar esses problemas a partir da multiplicidade de ontologias e seus conflitos, que não se reduzem a mero desentendimento, mas podem assumir a forma de verdadeiras guerras ontológicas de extermínio (simbólico, epistêmico, político, material e ecológico)? A partir dessa multiplicidade, como re/de/compor o problema do “fim do mundo”? E que possibilidades emergem para o pensar e o fazer de mundos?
A proposta abre possibilidade para variadas abordagens filosóficas, entre as quais, questionamentos de como essas categorias são historicamente formuladas, mobilizadas e tensionadas em diferentes tradições de pensamento. O evento também inclui em seu escopo as interseções entre gênero, raça, classe social e os saberes dos povos afro-indígenas, buscando repensar os modos de existência e resistência frente às formas contemporâneas de dominação que ameaçam corpos, territórios e modos de vida na terra. Esses destaques funcionam como eixos orientadores, sem, no entanto, limitar o escopo das discussões, que permanecem abertas à diversidade própria ao pensamento filosófico. Ao reunir perspectivas filosóficas diversas, o simpósio pretende fomentar diálogos transdisciplinares e promover alternativas éticas e políticas para o enfrentamento da violência em suas dimensões mais profundas.
Assim - sem perder de vista de que maneira nossos trabalhos produzem consequências para o nosso mundo - convidamos estudantes e pesquisadores de Pós-Graduação em Filosofia da UFRN e outras IEAs a submeterem propostas de comunicações para compor os diálogos e debates do IV Simpofil, a ser realidade entre os dias 18 e 20 de agosto de 2025.